Sedentarismo, obesidade, hipertensão, estresse, maus hábitos. A lista é grande e perigosa demais para o cérebro. A exposição cada vez mais precoce a preocupantes fatores de risco vem influenciando os casos de acidente vascular cerebral (AVC) em jovens. Popularmente conhecido como derrame, o problema não era considerado algo típico de pessoas com menos de 45 anos. Estudos mostram que os casos entre adultos nessa faixa etária aumentaram de forma expressiva.
Pesquisa da Universidade Federal da Bahia, realizada com 682 participantes em Porto Alegre e Salvador, mostrou que, entre os pacientes de AVC, 7,5% tinham menos de 45 anos. Já dados do Ministério da Saúde indicaram que, entre 1998 e 2007, houve um crescimento de 64% nas internações por derrames em homens na faixa etária que vai de 15 a 34 anos e de 41% em mulheres dessa mesma idade.
O cardiologista Eduardo Saad, membro da Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (Sobrac), afirma que o crescimento do AVC em jovens é observado, principalmente, em razão de casos de fibrilação atrial, um tipo de arritmia que promove a formação de coágulos no coração. “Estes, por sua vez, entram na circulação sanguínea e entopem artérias, impedindo o suprimento de sangue ao cérebro.”
Na fibrilação atrial, o impulso elétrico do coração não é regular. Entre as causas estão abuso de álcool e pressão alta, dois males cada vez mais recorrentes entre pessoas jovens. “Nesse grupo, o AVC é resultado da oclusão de grandes artérias, enquanto nos idosos há doenças em pequenos vasos sanguíneos que afetam a irrigação levando a pequenos AVCs.”
O tipo de AVC mais comum entre os jovens é o isquêmico, quando há obstrução dos vasos, interrompendo a irrigação de sangue para o cérebro. No AVC hemorrágico ocorre o rompimento de uma artéria, resultando na formação de um hematoma que comprime áreas do cérebro.
Cardiopatias congênitas não estão descartadas dos quadros de AVC nos jovens, mas o comportamento de risco os torna mais suscetíveis aos efeitos vasculares. Quem sobrevive a um AVC pode ter de conviver com sequelas graves, com incapacidades físicas e motoras que afetam a vida pessoal e profissional das vítimas.
Enquanto nos anos 80 e 90, os maus hábitos eram responsáveis por até 10% dos casos de derrame nessa faixa etária, após o ano 2000 esse número chegou a 20%. Segundo um estudo de cientistas finlandeses publicado na revista especializada Stroke, há incidência de 10,8 casos de derrame em jovens para cada 100 mil habitantes.
Saad destaca que, independentemente da idade, hábitos saudáveis devem ser primordiais. “Alimentação com pouca gordura, manter o peso ideal, fazer exercícios físicos, controlar a pressão e o diabetes, além de evitar o tabagismo”, diz. Diante de um indivíduo que, repentinamente, apresente deficiências na fala, na movimentação ou no raciocínio, a recomendação é encaminhá-lo imediatamente à emergência. As primeiras três horas no atendimento são cruciais para evitar sequelas e até mesmo a morte.
Fonte: Coração & Vida